Primeiro as crianças, depois os diagnósticos!



Feliz dia da criança! 
Que todas as crianças neste mundo tenham um ótimo dia, cheio de brincadeira, sorrisos e aventuras! 
O post de hoje é puramente dedicado a todas as crianças, mas com uma especial atenção às crianças com 'super-poderes', a todos os meninos e meninas que enfrentam desafios no seu dia-a-dia! 

Quando somos mais pequenos, tudo o que vemos é novidade e tem muita cor!  As crianças fazem a toda a hora e o momento o que hoje em dia chamamos mindfulness, elas sim são capazes de explorar a natureza, observar todos os objectos e coisas com mais atenção e a estarem completamente presentes no 'agora'. Um mindfulness puro, algo que nós adultos precisamos de treinar a nossa mente a fazer.

As crianças nascem e crescem com uma curiosidade inata, e essa contante procura de novas sensações faz com que a vida delas seja repleta de aventuras e sensações novas. A primeira vez que ouvem o barulho do ursinho, a primeira vez que tocam na relva ou na areia, quando descobrem o salpicar da água durante o banho, quando aprendem a andar, a saltar e a andar de triciclo.  

Ora aí está, a curiosidade, algo genuíno,que nasce conosco e existe em nós mas que as crianças conseguem fazê-lo com muito mais envolvimento do que qualquer adulto. As crianças, todas elas, e quando digo todas elas quero sublinhar o facto de que as crianças com disfunções, deficiências, ou outro tipo de distúrbios também fazem parte! Todas elas são crianças, com ou sem diagnósticos. Primeiro devemos ver as crianças como crianças e depois olhamos para os diagnósticos.  Crianças com diagnósticos são como as outras crianças, com curiosidade de descobrir o mundo, de brincar, de ter amigos e de experienciar o mundo com todos os sentidos. 

Uma criança diagnosticada com autismo não significa que 'ah e tal, é autista, não gosta de brincar com os outros...tem tiques estranhos com as mãos...é autista pronto, é a doença!' Não, não e não, tudo nesta frase é errado!
Primeiro, uma criança é sempre uma criança e deve ser vista e considerada como tal antes de lhe ser posta um rótulo em cima! Devemos sim, dizer primeiro - Aquele menino é uma criança, e  segundo - tem autismo. E não como muitas vezes se ouve, é um Autista! A forma como usamos as palavras tem muito peso, não só como vemos os outros mas como os outros nos vêem a nós! 

Um episódio que aconteceu durante as minhas sessões de terapia...

A G. é uma criança que quando começou a terapia chorava imenso, não gostava de ser tocada por ninguém, não se aproximava de baloiços, nao saía do canto da sala de terapia, não tolerava tirar as meias e os sapatos e andar descalça no ginásio. 

Contudo, era uma criança que constantemente olhava para os amiguinhos que alegremente saltavam para dentro da piscina de bolas, ou que saltavam no trampolim ou que baloiçavam no baloiço. 

Lá no fundo, é uma criança com extremos níveis de ansiedade, aversa ao que é novo e ao que foge do leque de atividades que ela sabe fazer. 

O tratamento envolveu muitos passos, primeiro conseguir parar o choro e manter-se calma durante a sessão, depois a explorar os diferentes brinquedos e equipamentos do ginásio da terapia, depois observar a terapeuta a tocar no baloiço e a empurrar o boneco no baloiço. 

Esta menina começou as sessões de terapia a chorar e acabou a terapia com o maior sorriso na cara, sentada num baloiço, sem tocar com os pés no chão e sem qualquer ajuda de um adulto para o fazer.

Não parece ser nada de extraordinário assim de repente pois não? O que parece extraordinário é que todos os dias a maior parte das crianças quando vão para o recreio, vão para o parque brincar e claro está que andar de baloiço é algo que todas fazem e todas gostam. A partir daquele momento na terapia, que a G. finalmente conseguiu andar no baloiço, significou que ela agora também se podia juntar com as outras crianças na hora do recreio e andar de baloiço. 

E qual é a importância disso?
Interação, brincadeira, aventura, sentido de pertença, amizade e fazer parte do grupo! Tudo isto é tão importante para quem é criança, quanto mais para uma criança que tem autismo e que este tipo de coisas podem ser um 'challenge' para o fazer! 

Com esta história toda só quero dizer que...

Primeiro, esta menina é uma criança como outras crianças que gosta de baloiços, de brincar com os amigos e participar na hora do recreio de forma divertida e descontraída. 

Segundo, sim, é uma menina com autismo, e não 'uma autista' que tinha imensas dificuldades a nível sensorial, na modulação e processamento sensorial (a nível tátil, a nível de movimento e equilíbrio) que a impediam de participar nas brincadeiras com as outras meninas. 

Cada criança, com ou sem diagnósticos, é única e devemo-nos focar nos pontos fortes e nas virturdes e usar esses pontos fortes para trazer o melhor de cada criança para outros contextos. 

Crianças com diagnósticos como autismo, hiperatividade, dislexia ou outro tipo de dificuldades devem ser incluídas e suportadas para serem vistas como os seus pares e não serem vistas à parte dos pares. 

Precisamos de tempo para perceber cada criança! Cada uma delas com ou sem diagnósticos tem os seus talentos e pontos fortes, são únicas e com a sua própria maneira de se expressar. Não se preocupe tanto com aquilo que as crianças não conseguem fazer mas sim foque-se mais naquilo que elas conseguem fazer e valorize o melhor delas todos os dias.


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