Fun Before Food - Parte 3! Dificuldades na alimentação e aversão à comida em crianças com autismo.

Na Parte 2 da série de posts Fun Before Food abordei o que é importante estar atento na hora da refeição, que texturas , sabores ou consistências o seu filho/a procura ou evita mais nas refeições e porque é que as horas das refeições podem ser complicadas para crianças com autismo ou dificuldades no processamento sensorial. Nesta Parte 3, vamos abordar mais a relação entre a sensibilidade tátil e a alimentação. 

Que relação existe entre a sensibilidade tátil e a alimentação? 

A aversão a comida em crinaças com autismo ou problemas de processamento sensorial não é sempre baseada na sensibilidade ao sabor mas nas qualidades táteis das comidas. Crianças que sejam mais sensíveis ao toque  e que no geral não gostam da sensação de vários estímulos táteis, são mais resistentes à estimulação sensorial na boca e por isso mais selectivos no que comem. Por isso trabalhar na redução da sensibilidade tátil tem um papel importante na aceitação de comidas mais variadas. 

Como podemos avaliar a reatividade tátil?

Com a exposição e envolvimento da criança em atividades que involvam diferentes texturas e atividades sensoriais táteis, nas mãos, face e lábios. 

Atividades

Nota: É importante seguir uma abordagem que vai desde texturas mais consistentes para o menos consistentes, de zonas corporais maiores para zonas menores, para evitarmos reações de ameaça ou sobrecarga sensorial. 

Nas mãos:

1. Textura areosa. Use areia e brinquedos. Coloque os brinquedos escondidos debaixo da areia e peça á criança para os encontrar. 
2. Textura pegajosa. Brincar com theraputty, plasticina, slime. 
3. Textura suave. Use um peluche fantoche e peça à criança para dar de comer ao peluche. 
4. Vibração. Apresentar um brinquedo com vibração (ursinho com vibração) á criança e promover o brincar.
5. Textura líquida 

• Dar á criança tintas e papel, sem pincéis. Verificar se a criança tolera a tinta nos dedos e pinta na folha.
• Fornecer um recipiente com água e sabão e encorajar a criança a lavar as mãos.  

Na face:

1. Textura suave. O peluche vai dar um beijinho na bochecha da Joana! 
2. Vibração. O ursinho  vai dar um beijinho na bochecha do Rafael!
3. Líquida. Fornecer um recipiente com água e sabão e encorajar a criança a lavar a face.

Nos Lábios:

1. Toque profundo e firme nas bochechas - Verifique a reação da criança quando põe creme á volta da das bochechas primeiro e depois na boca. 
2. Toque profundo e firme na zona da boca - Verifique a reação da criança quando põe creme á volta da boca primeiro e depois dos lábios. 
3. Vibração - O ursinho vai dar um beijinho nos lábios do Afonso!  

O que é importante estar atento enquanto realizamos estas atividades ? 

A criança...

• Não completa a atividade (pode ser um sinal de sensibilidade sensorial tátil)
• Precisa de encorajamento, o adulto precisa de modular atividade e tocar nas mãos (orientação física, mão-sobre-mão) ou face da criança. 
• O adulto inicia a atividade e a criança finaliza.
• A criança faz mas precisa de pistas verbais.
• A criança completa atividade sem problema (não apresenta sensibilidade sensorial tátil)

Outros comportamentos que podem ser observaveis: 

• Se a criança não gosta de escovar os dentes, lavar a cara, ter as maõs sujas, evita tocar em certas texturas e superfícies, não tolera o toque de outros na cara, mãos ou boca são sinais que podem também ser sinais de reatividade tátil.  

 No próximo post falarei mais sobre  que tipo de atividades podemos fazer numa fase inicial para trabalhar na aversão à comida em crianças com autismo ou problemas de processamento sensorial. Irei também debater a importância do brincar com comida para preparar a criança a comer e a ingerir mais alimentos.