FUN BEFORE FOOD - PARTE 2! DIFICULDADES NA ALIMENTAÇÃO E AVERSÃO À COMIDA EM CRIANÇAS COM AUTISMO.
A série de posts 'Fun before Food' continua. Depois do primeiro post em que falei sobre o que é aversão à comida e possíveis causas relacionadas com isso em crianças com autismo ou com dificuldades no processamento sensorial, vamos agora explorar ao que podemos estar atentos, o que avaliar e o que observar.
O que pode observar no seu filho/a se tem aversão à comida?
- Ofereça um alimento sólido e um líquido de alimentos preferidos e não preferidos e avalie o comportamento da criança quando o contacto oral com a comida acontece.
- Enquanto a criança está sentada na cadeira está com calma? Com corpo virado para a mesa e para a comida, sem espaço entre a cadeira e a mesa? Protesta passados 10 segundos?
- Existe um comer intencional? Que inclui usar uma colher, levar o copo à boca para beber? Tem um comportamento apropriado com a comida ou só brinca com a comida?
Dica: Pode sempre gravar a criança a comer por 15 minutos e depois pode fazer estas observações.
Vamos agora distinguir os diferentes sabores, gostos, texturas e consistências que podem ajudar a detectar quais as comidas que a criança pode ter mais aversão.
Sabores/Gostos
- Comida de dieta, suave, sem picante ou qualquer especiaria. É uma comida que não tem sabor, sem sal e sem açúcar. Exemplos: papas de aveia, leite simples
- Comida salgada, não picante, não doce. Por exemplo: sopas, massas, vegetais temperados
- Comida doce, com açúcares naturais ou artificiais. Por exemplo: banana, cereais
- Comida picante, comida com especiarias, como comida indiana (curry)
- Comida amarga, áspera ao gosto, como o limão
- Comida azeda, como a cevada
Texturas e Consistências
- Líquidas, como a água ou sumos
- Puré, como iogurt, comida para bebé
- Texturas amassadas, como puré de batata
- Texturas amassadas com pedaços pequenos de comida
- Texturas misturadas, comidas com mais de um textura, purés com pedaços, como purés com feijões
- Pedaços separados de comida suave (mole) como pedaços de banana, cenouras cozidas
- Pedaços separados de comida dura como vegetais crus, biscoitos
O que observar?
- Que tipo de sabores e texturas a sua criança gosta mais? E aquelas que gosta menos? E aquelas que tem completa aversão?
Do ponto de vista do Terapeuta Ocupacional, estas informações vão ser importantes para criar um perfil sensorial da sua criança, que informação sensorial oral e gustativa é que a criança procura e aquelas que evita.
As texturas e consistências fornecem também informação importante sobre as estruturas oro-faciais da criança. Por exemplo:
- Consegue triturar e mastigar bem os alimentos?
- Procura excessivamente alimentos crocantes? Isso pode dizer-nos que criança pode receber auto-regulação corporal através da ingestão de alimentos crocantes, como já vimos neste post.
Para as crianças que gostam mais de texturas suaves, tipo puré, pode significar que as estruturas oral-motoras precisam de ser estimulas para promover estimulação das estruturas orais e ativar estes receptores sensorias presentes na boca. Esta transição de texturas suaves para texturas com pedaços de comida dura deve ser feita de forma lenta e gradual e devem seguir uma sequência de desenvolvimento (como vimos acima nas texturas e consitências).
A abilidade da criança em processar informação sensorial tem um grande impacto em atividades funcionais diárias como o beber, comer e engolir. Crianças com autismo ou com dificuldades de processamento sensorial podem ter mais sensibilidade em tarefas como comer devido á grande concentração de receptores sensoriais na área oral-facial.
Há outros aspetos importantes a avaliar, como por exemplo, os níveis de participação da criança no brincar sensorial e tátil e observar as reações a diferentes estímulos táteis, nomeadamente em relação ás mãos e á face.
No próximo post falaremos mais sobre esta relação entre a sensibilidade tátil e a alimentação.
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